quarta-feira, 16 de maio de 2012

A tirania da Felicidade

Ontem estive triste...o dia todo...24 horas inteirinhas de pura e simples tristeza. Daquela que dá direito a olhares perdidos no horizonte e lenços de papel amarrotados nos bolsos das calças. Tinha, academicamente, razões muito válidas para isso. Mas não é essa a questão...a questão que me ocorre é se temos tempo, se nos permitimos tempo para de vez em quando, com ou sem as mais válidas razões, estarmos verdadeiramente tristes.

A felicidade está por todo lado! Ele são projetos de bem fazer aos outros, blogues sobre ser feliz, livros que ensinam o ato em 10 passos, conversas edificantes com amigos sobre "o que realmente interessa"...
Todos os dias nos lembramos que somos felizes, que temos de ser felizes, que temos todas as razões para ser felizes...mas e de vez em quando, não devemos a nós próprios o direito de estarmos tão tristes, melancólicos e amuados quanto nos apetece.

A B. encantou-se há pouco tempo com uns desenhos animados cuja personagem principal é o João Bebé...um programa delicioso, absolutamente inóquo, sem violência, sem moralismos ao quadrado, só mesmo um bebé, o irmão mais novo de uma familia enorme que gosta de passear pelo mundo e pelo espaço e de dar gargalhadas acompanhado por um coelho (que tem olhos de quem consome substâncias psicoativas, mas isso é tema para outra conversa). E no fim de cada episódio, cantam uma música bem catita, que fala sobre a "magia de bebé". A minha filha, depois de ver todo o episódio, muito contente, chorava desalmadamente no fim...porque estava triste. Perguntamos porquê, tentamos perceber se tinha metido os dedos numa tomada elétrica enquanto ouvia a música e estava por isso "traumatizada", proibimo-la de ver o programa...até que sentei ao lado da pequena, e vimos o programa juntas. E no final, com os olhos cheios de lágrimas gordas, e de mão dada comigo,  disse-me"é mesmo triste mamã...mas já passou...não choro nunca mais a ver o João Bebé".
E pronto, teve de ser uma babe de 3 anitos a explicar-me o que ainda não tinha percebido. Às vezes podemos ficar tristes...e "desfrutar" de toda a nossa tristeza...Sobretudo porque temos a certeza que vai passar e que a felicidade de amanhã, vai ser ainda mais saborosa...

3 comentários:

  1. é claro que podemos estar tristes.. aliás, acho que DEVEMOS estar tristes, quando assim nos sentimos. tudo tem o seu tempo e o seu espaço, e mascarar a tristeza é que não será, de todo, o bom caminho! :)

    falei um bocadinho sobre isto, aqui: http://carmenxtrelinha.blogspot.pt/2012/02/cicatrizes-sao-memorias-de-feridas.html

    beijo gordo *

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  2. Mas, a maior dificuldade, passa por controlar o que se come, é que a malta empanturra-se com tristezas e dps queixa-se: - ai que estou cheio, comi demasiadas tristezas!...bem, se elas fossem doces, eu faria/diria o mesmo. Agora, pensando bem, as tristezas são muito menos calóricas...é melhor não pensar! :)

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  3. Às vezes podemos ficar tristes...e "desfrutar" de toda a nossa tristeza...

    Gosto de ti porque escreves e DIZES coisas como estas.

    Porque és corajosa e humana.

    E porque és parte de mim.

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